Sopa de papelão
Estão tentando sufocar a minha poesia
E as nuvens são os meus olhos de chufa
A minha pele tem a cor da raiz de um povo
Mas é a mesma raiz da planta que esqueceu seu fruto;
E o canto que ouço naquele canto
São as crianças plantando papelão
No prato há sobra da doença enganosa
No recipiente, o sal que o dia oferece
É o mesmo sal que faz salobra a minha vida;
Na penúria esquecida
Rejeito a flor!
Senhor! Oh Senhor;
A fome fala dor!
E a África chora enquanto acendo um cigarro
A minha palavra é a tosse
Interpreto mal, pois meus pensamentos são cinza;
“E orando não useis de vãs repetições, como os gentios,”
“Que pensam que por muito falarem serão ouvidos”
Logo deixarei o cigarro tomar o fim
E se esquecer de mim, como a luz a escuridão!
Pois tenho fome, sou um continente
Da cor da gente, do tamanho de um caixão
Da palavra sem letra
Janto almoço e janto papelão!
Senhor! Oh Senhor.
A fome fala: África e dor!