Por que não estar tão triste?
Estou tão triste por minha ausência de Tristeza.
Estou tão triste por perder o quê, e quem, nunca foi meu...
Logo eu, que tanto te amava,
Que espécie de Amor é este?
Não será o Amor apenas um fonograma conceituando apenas ideias sobre o amor?
Eu tão triste, porque eu deveria estar triste.
Eu sigo escrevendo, e meus irmãos longínquos vomitam sangue e estupidez,
E a verdadeira Tristeza, que nunca fui digno de acariciar e abarcar, sorri-me com desdém.
Põe-me em teus braços Tristeza,
Deixa-me sentir a pulsação de teu vácuo em minha alma,
Pois a Tristeza é bela por ser real e por não usar véus.
Deixa-me beijar teus pés Tristeza,
E quem sabe a minha alegre avidez por ti Tristeza
Não seja apenas sensações fecundadas pelos pensamentos.
Por que não estar tão Triste?
Só os genialmente tristes são alegres no tabernáculo da Tristeza,
Contudo muitos alegres na tristeza nem sempre são geniais.
Este Sadismo de nada sentir,
Esse Nazismo de tiranizar o nada;
Auto-culpa em se achar que há culpas;
Perdão onde se pensa haver crimes;
Fogo Eterno para delitos e condenados cujos autores são finitos.
Justifiquem a Indulgência de se comercializar absolvições;
_Pai, deixa-me no deserto demoníaco da Sabedoria;
_Pai, por que me amaste, se sabias que meu amor me mataria por tão pouco?
Tu, cujos pés agnósticos suspiram por sentir os beijos das ondas do mar;
Tu, cuja solidão é ausência até de si mesmo;
Tu, em que as carícias do Afago pensam em outro ser;
Tu, cujas mãos que te tocam estão longe de teu corpo;
E as palavras românticas ditas a ti estão endereçadas implicitamente a outrem;
Tu, cuja via-crúcis não redimiu tua dor que tanto evitas e escondes;
Pois teu vasto coração ri de teu microscópico Conhecimento.
Por que não estar tão Triste?
Eu sou os soldados mutilados que gritam aos céus para mais um dia de vida;
Eu sou as mães que perderam seus filhos para as drogas, crimes, guerras;
Eu sou os espinhos que perfuram todos os dias a paz inexistente de todas as almas;
Eu sou os cidadãos que são enganados, esquecidos e roubados pelos Governos, Estados, Mídias a cada aurora cada vez mais negra;
Eu sou a Decadência da Saúde, Da Educação, A MÁFIA em todas as instituições;
Eu sou as insatisfações sempre famintas que jamais engordam as milhares de máscaras com que te vestes;
Eu... Eu... Eu, que nunca sou Eu, mas algo sempre inominável e indefinível.
_ Fala comigo Pai,
Preciso ouvir a mudez de tua voz,
Necessito de alguma certeza (por mais irreal que seja);
Por que não estar tão Triste?
Mundo! Nos braços do Inefável Deus a quem a humanidade diz conhecer,
Minha alma mitológica encontrou a morfina de ser e de viver.
O Céu áspero e metálico naufragou no eclipse de minhas mãos feudais,
Tão mais tristes do que própria Tristeza.
Estou tão triste por todos os arquétipos fictícios de minha ausente Tristeza.
Estou Triste,
Estou panteisticamente Triste,
E o Inconsolável nem me consola mais com suas mentiras.
Esqueçam-me de mim.
Deixem-me com minha ausência de sempre estar em mim,
e com minha própria alma idiotamente cosmopolita.
Gilliard Alves Rodrigues