Cinza, Fria, Escura...
Reclamo do rio cheio de lixo,
Mas não separo,
As sacolas não são recicláveis.
A fotossíntese não acontece nas minhas plantas e flores.
Cimento cinza é o meu jardim.
Engano a sociedade e não dou esmola a uma criança,
Mas compro o doce que ela vende no semáforo.
Idolatro a atriz e o craque do futebol,
mas não sei quem é o jovem largado na calçada,
que o “crack” consome.
Reclamo da carroça do catador que atrapalha o trânsito.
Congestionamento me irrita mais que o ônibus lotado.
Dentro do automóvel sou imbatível.
Do ar puro já não necessito,
Faço exercícios na academia barulhenta.
Para não ver a realidade,
Me escondo em muros altos,
Vidros escuros e grades são minha proteção.
Da coletividade não compartilho,
Vivo no meu individualismo.
Cinza, fria, escura
A cidade metropolitana
Cinza, fria, escura
A frieza do homem
Cinza, fria, escura...