Descarte
Não são os vestígios do caminho
que incomodam
Não é o fato de não conhecer
o fim da estrada
O que incomoda e nos corrói por dentro
são as decepções sucessivas,
incisivas e diárias,
frustrações lancinantes
ao perceber
que os objetivos são vazios.
Que as placas de aviso são tão óbvias como inúteis
E que existe a penumbra do improvável,
do intangível,
do inimaginável
O que dói é saber que
há a estrada e um silêncio
compacto encravado
entre o aqui e o desejado
Há uma expectativa angustiante
de quem sai do abismo,
de quem sofre um abuso,
do abismo semântico dos olhos,
das intenções
escrachadamente subliminares,
Do abismo assinalado e implícito
em achar o caminho,
O detalhe do atalho e
O desafio de continuar caminhando
De quem transcende o tempo e o espaço
Continua mortal e eterno
E, prossegue catando vestígios de
humanidade
E só encontra
coisas descartadas pela ilusão.