A NOITE DO RATO
Certa noite, estando eu a pernoitar
Na penumbra da escuridão,
No interior de minha alcova
Acomodado sobre um rústico papelão,
De repente; um ruído, uma palpitação.
Escutei ruídos, mas não dei importância
Pensei: deve ser algum bicho de estimação,
Talvez alguma barata, lagartixa ou morcego,
Ou qualquer outro bicho do meio social
Quando de repente, senti uma mordida
No dedo da minha mão.
Joguei a mão para cima, n’um forte balanço,
E percebi que alguma coisa havia caído
Dentro de uma caixa de papelão,
Que ali estava por acaso, sem perceber,
Eu fui então verificar, e qual meu espanto!...
Era um rato, que lá estava me olhando tentando fugir ou se esconder
Mas eu o cerquei mesmo na escuridão.
Não dando chance a ele
De fugir nem se esconder
Cerquei o pobre infeliz comilão
E o dominei e sufoquei,
Assim assassinei o sócio do meu espaço
Como tudo ocorreu? nem sei;
Só sei que em meio ao meu desespero
Perdi assim um companheiro
Que era um dos bichos de estimação.
A minha insignificância era tamanha
Que até os bichos tentaram me comer,
As baratas me lambiam a cara
O ratinho virou um monstro
Minha vida assim perdeu o sentido de ser .
Naquela noite, parecendo eu um indigente
Jogado no chão coberto com um trapo
Que até os bichos queriam me comer,
Na penumbra de minha alcova
Tendo por companheiros os bichos,
Os amigos do meu convívio
No macabro mundo do meu viver.
Vivia então desejando deitar-me
E nunca mais acordar, Pois para viver assim
Melhor seria morrer.
J. Coelho