Existência (In) sólida-
A Luís Carlos Guimarães
Meu coração é muito frágil para
só ter saída numa porta de vidro
Não posso costurar verdades num lugar abandonado
não há nada moderno em ser a voz
dentro de uma imagem imprecisa...
O mundo não precisa desse mal,
bastasse que fossem mais coloridas as casas
menos cinza atemporal seus moradores...
Meu coração é um poço. Oásis de pedras
Enquanto o mar revolto se desequilibra
Conflitando os seres da mesma espécie
Inútil disputa: quem ganha mais solidão?
O deserto me vence a prova, me desafia;
O amor se conforta nos olhos azuis
e não há perdão em quem se desconfia!
A vida é essa página virada no impulso
Na escolha de gastar as horas, passam tantas tardes...
Vagam mudos os sentenciados,
em terna adoração aos que partiram;
fazem-se os “Narcisos espíritas”
reconstruindo e exaltando suas outras vidas.
Meu coração não me percebe nunca
quase sem razão, faz a pauta do dia
Sem consulta com toda autoridade de me ser
Ah! Lula Guimarães, o teu miocárdio
deixou uma certa ponte de safena desavisada
sujeita à tropeções de um dia festivo.
O mesmo dia que torna extinto, que passa...
Ninguém escapa poeta,
Atravessas a ponte
que confirma
nossa inexistência.
* Luís Carlos (Lula) foi um grande poeta de Natal/ RN. Ele passou o dia de aniversário comemorando com amigos, quando chegou em casa, antes de abrir a porta, teve um ataque cardíaco.