Decrepitude
Com frequência fanei minha moral pelo ventre
Depredei o porvir com meus delitos de meretriz
Chorei sobre o reproche as dores que toda mulher sente
Quando se vê enxuta, a agir como uma atriz
Porém a lascívia jovial volveu a mim
Arrancou-me as flamais máscaras níveas
Tornei-me réproba, espicaçaram-me até o fim
Ufanei-me com a audácia e assim fui mui feliz
Agora estou velha, inerte e horrenda
Minh’alma tornou-se o húmus da consciência
E meu corpo o necrófago devorador da saliência
Vergasta-me o ócio, amiúde, já que de culpa sou isenta
Orgasmos embebidos somente em nostalgia
Meu deleite é agora nada, excluso o conhaque
Vivo em espera, eterna e fúnebre letargia
No cume do desprezo, suponho efêmeros achaques
Ao rabiscar versos surreais, outrora venustos
Que agora não passam de intrínsecos pesares
Prenuncia-se-me a perpétua rebeldia em casulo
Desfaleço-me por esmo enfim, quiçá seja coisa da idade...
N’outro dies nefastus, malsino-me com sarcasmo: Feliz aniversário!