Decrepitude

Com frequência fanei minha moral pelo ventre

Depredei o porvir com meus delitos de meretriz

Chorei sobre o reproche as dores que toda mulher sente

Quando se vê enxuta, a agir como uma atriz

Porém a lascívia jovial volveu a mim

Arrancou-me as flamais máscaras níveas

Tornei-me réproba, espicaçaram-me até o fim

Ufanei-me com a audácia e assim fui mui feliz

Agora estou velha, inerte e horrenda

Minh’alma tornou-se o húmus da consciência

E meu corpo o necrófago devorador da saliência

Vergasta-me o ócio, amiúde, já que de culpa sou isenta

Orgasmos embebidos somente em nostalgia

Meu deleite é agora nada, excluso o conhaque

Vivo em espera, eterna e fúnebre letargia

No cume do desprezo, suponho efêmeros achaques

Ao rabiscar versos surreais, outrora venustos

Que agora não passam de intrínsecos pesares

Prenuncia-se-me a perpétua rebeldia em casulo

Desfaleço-me por esmo enfim, quiçá seja coisa da idade...

N’outro dies nefastus, malsino-me com sarcasmo: Feliz aniversário!

Duda Checa
Enviado por Duda Checa em 21/09/2011
Reeditado em 21/09/2011
Código do texto: T3231629
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