Por que evitei cometer muitos erros?
Tentei ser um pouco mais correto?
Não relaxei o bastante?
Aparentei ser um tolo?
Quis levar a vida tão a sério?
Cultivei tantos medos?


Talvez se a vida não apresentasse tantos porquês
Teria viajado mais?
Resfriando-me em bolas de sorvetes?
Empapuçando-me de cocadas, pés-de-moleque e balas?
Perdendo-me no inalcançável horizonte?
Brincando com as figuras das nuvens?


Eh! Quem sabe se a vida não apresentasse tantos porquês
Teria caçado pôr-do-sol?
Acompanhado o andarilhar da Lua?
Rindo com o piscar intermitente das estrelas?
Caçado vagalumes?
Descobrindo mais prazeres na noite?


Talvez se a vida não me apresentasse tantos porquês
Teria alcançado o topo dos montes?
Perder-me em vales desconhecidos?
Sentir o vento desgrenhar meus cabelos?
E assobiando em meus ouvidos?
Amanhecido com a brisa arrepiando a pele?


Eh! Quem sabe se a vida não apresentasse tantos porquês
Teria pisado na barranca de um rio?
Permanecido imóvel para imergir no canto do rolar de suas águas?
Gasto horas silenciosas pescando de vara?
Banhado em suas águas frias?
Nadado rio a baixo?


Talvez sea vida não apresentasse tantos porquês
Teria encontrado uma cachoeira e bebido da sua beleza?
Permitido ser lambido por sua língua d’agua?
Ficado assustado com a espada d’agua ferindo o rio?
Assistido boquiaberto o estraçalhar da lâmina d’água sobre as pedras?
Escondido do Mundo atrás do véu de sua chuva?


Eh! Quem sabe se a vida não apresentasse tantos porquês
Teria abraçado a praia?
Sentando nas areias e cerrado os olhos?
Imóvel inebriado com o cantar das marolas?
Andarilhado na beira do mar rompendo as rendas de espumas brancas?
Corrido à exaustão em cima da colcha de brancas areias?


Talvez se a vida não apresentasse tantos porquês
Teria espantado problemas imaginários?
Eliminado a ânsia do ter?
Seria mais meu amigo?
Companheiro de mim?
Camarada de todas as horas?

Eh! Quem sabe se a vida não apresentasse tantos porquês
Seria confidente de meu Ser?
Meu Analista, Psicólogo e Psiquiatra?
Louco varrido?
Pancada da cabeça?
Alienado, marionete?


Ah! Se assim não fosse, por certo
Teria bebido com sabor cada segundo
Mergulhado de cabeça em todo minuto
Apreciado com vigor cada hora
Enaltecido cada mês
Agigantado em cada ano.


Ah! Se assim não fosse, por certo
Veria que a vida não é de toda ruim
Se assim não fosse, monótona seria.
Aprendi que a vida é soma e subtração de momentos
Respiram-se os bons e inspiram-se os maus momentos
Resultado desta equação, igual à felicidade.


Seria muito bom se pudesse andarilhar sem o peso do medo
Sem a ameaça imposta pela responsabilidade excessiva
Caminhar livre, leve e solto
Sem guarda chuva
Sem mala, maleta ou mochila
Sem pacotes e embrulhos.


Certamente seria um transeunte de passos leves e tranquilos
Pés descalços para sentir novamente a textura da terra
O frescor da relva
Quem sabe retornaria pra mata
Bem distante da selva de pedra
De agitos, roncos e barulhos.


Quem sabe reviveria a plenitude das quatro estações
Livre dos gases
Do aquecimento artificial
Do efeito estufa
Dos buracos negros
Da natureza tresloucada


Senhor dos Mundos
Grande Arquiteto do Universo
Onipotente
Onipresente
Diga-me
Onde foi que errei?

Mané das Letras
Enviado por Mané das Letras em 19/09/2011
Reeditado em 19/09/2011
Código do texto: T3229027
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