Morte

Hoje alguém morreu.

Todos os dias morre muita gente.

Um sopro pousou para sempre um peito arfante.

Os instantes interrompem muito respirar.

Uma senhora olhou pela última vez o mundo.

Quantos olhares quedaram-se pela última vez a coisa-em-si!

Um gesto repousou um corpo rente.

Milhares de movimentos silenciaram-se em inércia.

Uma idosa lembrou uma escolhida lembrança.

Memórias marcantes se branquearam e partiram.

Um vulto de criança embaralhou a vista da dona envelhecida.

Imagens pueris entrelaçaram adultos e fizeram despedida.

Entre a senhora e toda gente que morreu há

uma simples e enorme diferença,

enquanto a mulher é velada na vizinhança de minha porta,

os corpos desconhecidos não têm fisionomia ou sorriso para eu lembrar.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 11/09/2011
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