SEGREDOS

Caminhava noite adentro,
Alternando momentos,
Ante os olhares de desprezo,
Sentindo o peso,
Das horas embrutecidas.
Caminhava só - sozinho,
Puxando o seu carrinho,
Catando as sobras do dia,
As dobras de utopia,
Escondida entre os dedos.
Caminhava sem ternura,
Pelas ruas sujas, escuras,
Da cidade quase adormecida.
Rasgava a alma em angústia,
Sacudia o corpo cansado,
Do árduo traçado,
Do absurdo de ser - existir.
Caminhava inventando segredos,
Para prosseguir...


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Sonhos, fantasias
alimentam o seu dia
enquanto puxa a carroça.
Às vezes alvo de troça,
vai seguindo com denodo.
Mas há de escapar do lodo,
pois tem fé no amanhã,
que lhe acena com ternura,
muito além da noite escura
- esperança nunca é vã.
Da angústia que o atormenta, 
alegria experimenta:
cantou longe a jaçanã.

(HLuna)