SOMOS DOIS SEM VERGONHAS
SOMOS DOIS SEM VERGONHAS
Não vou por o joelho em terra
Preciso partir, mesmo que chores
Saio de casa sem se quer um abraço
Em meio a flores artificiais
Perco-me antes da metade do caminho
Tenho vontade de seguir em frente
Só falta o essencial: coragem
Ainda confuso minto não ter medo
Talvez só através dos meus olhos abertos
As coisas acontecem no real sem sonho
Não há esperança de ter mais uma chance
As horas passam como que entorpecidas
Não precisa esperar
Abra as portas da ilusão
Sua vida está mudada
Ninguém para reprovar-te
Na madrugada a saudade aperta
Quero sufocar-me no seu abraço
Se não a respiro, enlouqueço
Desejo-te com todo meu âmago
Não passamos de dois sem vergonhas
Contando sempre histórias velhas
Engrenamos tudo em meias verdades
Nem somos capazes de mentiras novas
Vou tentar pulá-la como uma página em branco
A esquecerei como a pedra ao líquen
A ignorarei como a água ao cume da montanha
Vou me conformar a renunciá-la
Felicidade instantânea não existe
Mas o destino age só para nos contrariar
Não consigo acreditar que seja só aventura
Com você já tive prazeres transcendentais
(fevereiro/1983)