SOLEDADE
SOLEDADE
filosofando, varar noites insones,
neste palco nu, sem cenário,
a multidão irreal me inunda
pois fiz-me um ser solitário
e há sabor acre no estar
na meditação profundo
ruminando egos avessos
da caravana da vida.
nela viajo idiota
e me sinto só nela,
me sinto um nada!
vazio, sem companhia,
a solidão é o “eu” em mim
perdido entre a profusa
multidão de entranhas.
encolhi-me no fundo da alma
já que nenhum terno olhar,
femíneo, indulgente, meigo,
me vê, me encontra,
onde só eu me observo,
severo, obtuso, leigo embora,
me julgo
me puno
e me encho de impropérios
dos sonhos da juventude
de um passada mal acolhido
que não sonhei
num ombro ternamente amigo
simulando felicidade,
que fere fundo o presente
com o punhal da soledade
e nas vestes do corcel
relincha triste
na baia/vácuo do meu peito.
290811 – Afonso Martini