Anunciação
As nuvens chegam tristes...
Cobrem o sol que, tão triste como elas, fica.
Torna o dia sombrio;
Sem qualquer novidade que nos sirva de conforto.
Então chove...
E a chuva inunda cada sentimento bom;
Descolore qualquer expectativa trazida no peito;
Molha o chão, derretendo-o em dissabores,
Expondo a todos, corpos e segredos há tempos enterrados.
Olhares suspensos da realidade,
Cansados de tudo o que já viram, deixam-se distantes...
Perdem-se no tempo das sensações;
Na vastidão de cada pensamento imortalizado.
Eles me chamam...
Eles me ouvem...
Eles me calam...
Então eu abro a janela -
Desobedeço a um pedido intimo do meu coração.
Estendo minha mão em direção à chuva
E ponho-me de joelhos junto à lama
E a sinto em meu corpo como sangue que descobre minhas veias;
Deixando-se em cada pequena célula encravada em meu ser.
Descubro-a em minha vida.
Alimentado minhas emoções.
Choro...
Mas minhas lágrimas perdem-se na chuva e meu choro faz-se inútil!
Penso...
Mas meus pensamentos são tão pesados quanto as nuvens que pairam sobre mim.
Descanso...
E a sensação de morte nunca foi tão viva e tão certa.
Sinto as nuvens partindo.
Vão leves...
Vão felizes...
Vão sorridentes...
Pois tudo o que havia de tristeza deixou comigo.