POEMA DO SILÊNCIO
Enquanto calo sob o doce abrigo da paz que faz guerrilha
Eu observo a matilha alimentando-se do pão carnal desfigurado
Amargurado qual deportado em banimento à mais longínqua ilha
No peito a quebrantada vasilha, vazando rios do passado!
Não me é dado o direito de em praça pública esvair-me em confissão
De sorte que me resta a procissão com seus andores profanos
E os esclarecedores enganos abrindo os olhos pra deter minha visão
Com tão humilde presunção, que penso em vão nos iludidos planos!
Taxado por solene insignificância, aplaudido e festejado como um réu
Infernizado pelas digitais do céu, que vez em quando me visitam sem vir
Pronto, como sempre estive, pra partir ao léu
E para tirar o chapéu, em desagravo ao pranto que convidou-me a sorrir!
Aqui prossigo, voando nos suores desse chão, nas nuvens da agonia
Dialogando com a minha poesia, ouvindo os ecos do silêncio
Pois o vazio é tão imenso que só a perda de todo senso lhe preencheria
E sua guerra venceria, precisamente por achar-se de tal modo indefenso!
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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor