Ai, Senhor de todas as mordaças, retira a minha.
Deixa que eu fale, grite, me estremeça
no desespero vão de ser tão só.
 
Mordaça minha, dona dos nãos,
imortal fera que me come os gestos,
palavras e anelos
até o mais doloroso silêncio:
desde este dia, de agora,
tão, mas tão vazias descubro estas mãos,
que nem a prata toda dos risos,
o ouro global dos abraços
e a brisa frisal dos murmúrios
as encherão de um sincero bem.

És, portanto, inútil, mordaça minha.
Absolutamente nada --- já nem digo ninguém ---
de mim se enternece, mãos abertas, mãos.
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 21/08/2011
Reeditado em 23/08/2011
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