Poema para me entender

A minha cidade está triste,

As luzes noturnas amarelaram-se

E os coqueiros estão cabisbaixos,

Quase pendendo ao chão.

As pessoas correm caladas

Por entre as construções cinzas.

Os cachorros reviram entulhos

Em busca de qualquer coisa.

Na minha cidade até o choro faminto

De uma criança mal embalada

Tem em si um tom melancólico.

Minha cidade...

A luz que antes tinha,

A cor que antes tinha,

O barulho que antes tinha,

O carnaval que antes tinha,

Tudo absorvido pela retina

dos meus olhos tristes.

Cansado na rede da varanda, sinto medo de tudo.

Tenho medo de pneumonia, por isso não me arrisco ao vento.

Tenho medo do escuro e da possibilidade de ser assaltado.

Tenho medo de mudanças, pois posso não ter pra onde voltar.

Tenho medo das amizades, pois não tenho em quem confiar.

Temo o casamento e a utopia do “felizes para sempre”.

Temo domingos em família: cachorros, filhos e almoço tarde.

Temo admitir os meus erros e pedir perdão.

Tenho medo de amar, por isso me nego.

Tenho medo de me rebaixar, por isso não peço que fique.

Tenho medo de (te) dizer o que sinto, então digo tudo ao contrário.