O gosto de uma lágrima que caí

O que fazer, se...
Uma lágrima no caldeirão caia?
Criança chorando pedindo o quê comer.
E os pedaços que ninguém queria, chorando a preta velha remexia.

Explicar agora parece presunção...
Uns falam ilustrado: cozimento dos ingredientes carneados.
Resto do porco, vitela e vaca...
Água fervendo, tempero e feijão

Há quem afirma que se comia angu,
Farinha da mandioca, água potável...
Em meio à escassez e carestia
Temperada com trabalho, suor, gordura, sal e alegria.

Afirmam que a vida não era tão ruim...
A mercadoria é que chora, reclama, alvoroça e passa mal.
Quem iria maltratar, deixar sem regalia...
Os que almoçavam três vezes na base da economia?

Dizem até que em Petrópolis se consumia carne verde,
Vitela, carneiro, porco e lingüiça de sangue e tripas,
Comprovando-se que não só escravo que os restos comiam.


E que Debret documentava a profissão de tripeiro: vendedor ambulante...
Que os miolos iam para os hospitais.
Tripas, coração fígado iam para o angu à baiana
Das escravas de ganho para vender na cidade.

Há quem afirme que a feijoada é européia...
De Trás-os-Montes, Alto Douro, que misturavam vários tipos de feijão
Com lingüiça orelha e pé de porco.
Que cozinhavam tudo junto, carne a pele e o osso...

Que os cozidos do “cassoulet francês”, “do madrilenho”, “do casserola”
São antepassados da feijoada.
Cascudo daria risada e diria:
É apenas a atualidade.

O Diário de Pernambuco foi o primeiro a dizer ”à brasileira”!
Nas famílias onde havia a verdadeira gastronomia comezinha usual, convertiam tudo num engordo, lançado em grande panela, resto de peru, leitão, toucinho, tempero, ilusão e feijão.Faltando apenas a lágrima para se colocar nela.

De Magela

(for Elias)
DE MAGELA POESIAS AO ACASO
Enviado por DE MAGELA POESIAS AO ACASO em 05/08/2011
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