Mito comum

Bem eu suspeitei que ao não saber por onde andavam minhas palavras

Certamente durante o dia não saberia me conter em equilíbrio

Posso não surtar, mas não posso não sumir

E não estando, grito desimpedido, quem haverá de saber?

E que tantos rostos me olhando são estes agora?

Sinta como eu sinto, os minutos sugando vividez

O mal da angústia não é o choro, é o sal que fica

E nenhuma morte é pior do que essa em que se vive

Penetrando o futuro com a lentidão possessiva dos que já saúdam outras vidas

Letargia alimentada pela indiferença, más palavras, costas viradas

O que não justifica perante os olhos alheios de tão fácil desprendimento

Mas por dentro, carne, alma … nota-se de longe o embaraço

Deduzir planejamento sobre o que se sente, é impossível

Ninguém suportaria uma vida regada com mesmice, nessa retidão paranoica

A tese dos doutores do “saber viver bem” masturba seu próprio ego

“Coma o quanto puder” e “Viva por prazer e conquista … e só”

Ei, nem tudo é tão pateticamente banal

Hoje mesmo eu não soube o que fazer com uma dorzinha que me apareceu por não entender

Quando penso em algo absoluto, rivalizo com o que eu mesmo sou

O “vir a ser” é cada vez mais ido

Que mito doloroso, se tornando comum.

Daniel Sena Pires - Mito comum (30/07/2011)