Sobre erros
Gosto de fechar os olhos e imaginar que estou com ela
Olhar para o onírico dos olhos fechados, imaginar uma janela
De uma casa onde sou um perfeito pequeno burguês
Moralista e preconceituoso acreditando no sadismo divino
Que o homem criou para disfarçar a insensatez
Sentado num canto qualquer
Esperando que ela adentre a porta
Exalando os tons da elegância cotidiana de mulher
Gosto de olhar para dentro das casas
Tentando adivinhar o cheiro daquele cotidiano
E colocá-la lá dentro pra que ela cuide de minhas asas
Pra que todas as merdas permaneçam por baixo do pano
Para que eu possa assim fingir que o mundo não está em brasas
Fazer de conta que posso gritar esse pecado nefando
Do alto da torre decadente do moralismo essa dor apaixonada
Gosto de fechar os olhos e ver o sexo
Dos tempos passados
Quando meus atos
Não precisavam de nexo
Quando a vida era muito mais simples
Quando éramos apenas eu e ela contra o mundo
Quando eu não tinha esse discurso mórbido dos tristes
Gosto quando vejo no onírico a poesia
Na quietude dos olhinhos fechados, dos lábios entreabertos
Da mão no rosto delicado mapeando com maestria
Da respiração do hálito que recende a orgasmo póstumo, dos beijos ternos
Na admiração do desenho perfeito de uma boca feminina
Na beleza do vicio infame nunca pedido, mas recebido de braços abertos
Da fina flor de rósea carne onde se pinta a perdição da alma faminta
Gosto de pensar na possibilidade de deixar o cigarro no bar
A possibilidade de ser preconceituoso e ignorante
De colocar a cabeça numa porra de algum lugar
Não participar do discurso babaca do Cult infante
Não divagar feito um babaca sobre “o que é amar?”
Ser capaz de não magoar aquilo que mais me é importante
Dizer a ela “ao meu lado é o seu lugar”
Porque a vida é simples
Porque acordar é triste
Porque da vida não quero nada mais
Porque é muito cruel o “tarde demais”.
Italo Jorge
P.S.: Quando isso vai terminar?