Eu Poeta

NOTURNO

Malditos pensamentos que não chegam a ti!...

Funesto desencontro no qual me sucumbi!

As forças absolutas que dominam meu ser

são as mesmas que querem ver o meu fenecer;

os montões de pessoas vagando aqui no trem

são os seres que sofrem na escuridão também;

são iguais ao poeta (mas sem o dom poético).

Por que Deus, do alto Trono, olhou pra mim – homem cético

e me deu este dom ao qual me perco nos prantos

solitários, noturnos, sem fanais e amarantos?

É que tudo ao redor parece grande demais,

eu, barquinho de folha em meio aos vendavais.

Procurei ser um homem esquecido de tudo:

das flores do jardim, o tão mimoso e peludo

gato frívolo assaz que só procura carinho,

enquanto o dono dá-lhe o bom conforto do ninho,

flores primaveris que eclodem belas pra nós

observarmos calados, sem ruídos de voz,

a mulher que palpita o coração com desejo

de se dar radiante na ternura do beijo,

a formosa ave que, voando canta pra todos:

Mudos, surdos, insanos, cegos, vãos em mil lodos,

assassinos cruéis, perversos seres da treva

que destroem a cândida flor, semente de Eva...

Procurei esquecer, mas para mim foi inútil

e ainda assim por muitos fui chamado de fútil.

Desgostei-me dos mundos dos homens e fiz os meus

de versos tristes, lúdicos que somente Deus

pode entender o insano que poetiza assim

entre a melancolia e o desconexo sem sim.

Mas, eu fico parado, pensativo demais,

sonhando com o colo terno que me dá paz...

E esses meus pensamentos voam lá para o além

procurando refúgio no regaço alguém.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 05/07/2011
Código do texto: T3076938
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