sob o véu

sob o véu da chuva

há uma lágrima quente e sangrenta

a trazer os rastros de alma

que deixei perdidos pelo caminho

sob o véu da cachoeira

há um fogo e fumaça miscuídos

perdidos nas reticências e nos suspiros...

sob véu dos puros

há uma crueldade silenciosa,

de ver e não ser visto

há uma máscara a encobrir

a dor, apesar do sorriso

a agonia, apesar da esperança

a tristeza, apesar da fé

sob o véu rendado,

delicadamente desenhado pelos bilros

e pelas mãos ciosas

existem mandalas, magias e predições

instaladas em cada volteio,

em cada ponto, em cada contraponto,

em cada canto

de olhos,

de olhar espixado até a outra esquina,

ou

até o suicida que despencou pelo infinito abaixo

e esqueceu de deixar o bilhete...

sob o véu dos mortos,

há um rosto frio, duro

esculpido sem emoção,

não há mais a respiração,

o sangue brotando das veias ou

das agruras...

há a misteriosa última expressão do rosto,

a última palavra dita,

o último sentimento

e, depois, o véu

a finalizar tudo,

a uniformizar tudo...

do pó vieste...

ao véu voltarás

como o sussuro dos ventos

a morte traz mensagens por vezes

tão indecifráveis como os véus das viúvas.

o véu é prenúncio e silêncio.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/07/2011
Reeditado em 03/07/2011
Código do texto: T3071975
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