sob o véu
sob o véu da chuva
há uma lágrima quente e sangrenta
a trazer os rastros de alma
que deixei perdidos pelo caminho
sob o véu da cachoeira
há um fogo e fumaça miscuídos
perdidos nas reticências e nos suspiros...
sob véu dos puros
há uma crueldade silenciosa,
de ver e não ser visto
há uma máscara a encobrir
a dor, apesar do sorriso
a agonia, apesar da esperança
a tristeza, apesar da fé
sob o véu rendado,
delicadamente desenhado pelos bilros
e pelas mãos ciosas
existem mandalas, magias e predições
instaladas em cada volteio,
em cada ponto, em cada contraponto,
em cada canto
de olhos,
de olhar espixado até a outra esquina,
ou
até o suicida que despencou pelo infinito abaixo
e esqueceu de deixar o bilhete...
sob o véu dos mortos,
há um rosto frio, duro
esculpido sem emoção,
não há mais a respiração,
o sangue brotando das veias ou
das agruras...
há a misteriosa última expressão do rosto,
a última palavra dita,
o último sentimento
e, depois, o véu
a finalizar tudo,
a uniformizar tudo...
do pó vieste...
ao véu voltarás
como o sussuro dos ventos
a morte traz mensagens por vezes
tão indecifráveis como os véus das viúvas.
o véu é prenúncio e silêncio.