Lúdico

Você pensa ser tão lúdico me julgar

Eu jamais posso voltar a ser condescendente com todos esses seus erros

Você mal sabe, você sequer imagina

Como todas essas suas palavras me ferem e me trazem pianos sobre as costas

Você passou a vida toda segregando os meus impulsos e vontades

Sua diversão é me ver atrelado a todos os seus segredos e mistérios!

Do lirismo do meu sangue sofrido você compõe seus textos de comédia

E quando eu me vejo trancado naquele alçapão fedorento você se esvai em gargalhadas

Eu mal vejo a hora de me libertar de você

Eu mal vejo a hora de construir asas de cera e alçar vôos rumo ao infinito!

Eu caminho e não vejo solução

E percorro meios e não vejo sequer um sorriso

Você não faz idéia do mal que me faz

Não se assombre se algum dia me flagrar surtando com facas e tesouras em mãos

Engolindo besouros com pimenta em meus olhos

Não se assombre se logo vier o dia em que você terá que decidir que frase colocar na minha lápide

Não se assuste se minha doce e sofrida passagem por essa vida lhe for assim tão esquecida!

Eu juro pra você

Que você não faz idéia

Do mal que você vem me fazendo

Não se assuste se algum dia em breve você me ver nadando em uma piscina em sangue

Com todos os meus sonhos mais lindos que você tratou de subornar

Seu amor é implacável como a cólera do mais sedento dos ditadores

Seu poder em mim é mais forte do que qualquer escolha de minha alma arbitrária juvenil

Meu sangue a cada hora se torna mais e mais volátil

E eu realmente não sei profetizar como conseguirei viver por mais um dia aqui!

E não adianta, por mais que eu tente gritar ou esbravejar

Você sempre dará um jeito de enfiar copos de vidro em minha garganta!

E por mais que eu tente respirar por mais uma vez

Você sempre terá a decisão final de dizer como e quando eu deverei dizer “Adeus”!

Eu passei boa parte do meu tempo aqui

E não sei como sobrevivi até agora

Eu acredito que todos os meus doces fantasmas internos de vícios e pecados me ajudaram a viver

E eu tenho uma grande cólera de frustração dentro de mim

E eu tenho uma grande cólera de ódio (contido) dentro de mim!

E não haverá mantra ou mandala mágica que tão cedo me faça feliz!

E tudo o que eu como não me cai bem

Tudo o que eu faço eu necessito crer e “re-crer” em mim milhões e milhões de vezes

E assim acertar um sentimento meu é como ganhar na loteria

Esfacelaram toda a minha identidade mal-fadada

Cortaram muitos dos meus defeitos

Mas junto com eles se foram boa parte de minhas tão frágeis vaidades

Eu tomo água e urino sangue

Eu inspiro ar e solto pó de cimento

Eu tento catar todas as palavras necessárias para me defender nesse universo tão louco e inconseqüente

E eu acho que realmente a cada dia eu estou enlouquecendo

-para a sua própria aventura-

-para o seu próprio divertimento pessoal-

Não se admire se algum dia eu resolver jogar tudo para o alto

Porque eu deixei escrito no pórtico sobre a ponte:

“Ninguém me escutou. Passagem comprada.”