DESPEDIDA

Tenho dito,por vezes repetido,

Ninguém me dá ouvidos.

Quando minha boca calar,

Em estrado frio estiver,

Nem versos nem rimas criar

É chegada a hora de sorrir,

Não choreis por mim!

Não estarei aqui,pra vos fitar.

Meus olhos tanto desejaram

Mirar os vossos de perto

vos acarinhar,vos abraçar.

Lembrar os belos tempos,

Da infância ao meu lado

Quando riam de qualquer coisa.

Quando o primeiro, a brincar

A noite inteira ficava,

Éramos felizes,os três,

Eu não sabia.

Quando desmontava brinquedos

Ou coisas da casa,era inventor.

Queria de um, fazer dois,

Desmanchava pra ver do que era feito.

Nada lhe escapava,relógios ,nem se fala!

Era meu menino levado,

Queria sempre ajudar nos trabalhos.

Não dormia,só queria

participar de tudo nessa vida.

Hoje homem, nem vê

Que pra mim nunca cresceu.

Minha doce alegria sempre é

Estar ao meu lado,recompensa

Pelas noites mal dormidas.

Só sinto que não tenha ainda

Um amor que esteja à altura

Do coração que não cabe

No peito que é amor,dedicação e respeito.

Não abre sua boca em reclamação,

Como cordeiro segue em frente

Sem criticar,só me amando.

Só não percebe

Que estou indo,lentamente

Pra longe dos olhos dele.

O outro,feliz se sente

Noutras paradas da vida

Que buscou pensando

Ser feliz ,viver bem.

Pensa estar contente,

Caminha pra ser realizado

Sem se dar conta que deixou

Tão distante um coração

Que sangra despedaçado,

Sendo ele, um dos pedaços

Que levou pra tão distante

Alegria de uma mãe

Que não vive sem seu filho,

Assim dela arrancado,

Vivendo emprestado

Em terra estranha,rejeitado

Lá vive iludido,na esperança

De estar realizado,

Vive sozinho, a vida .

Não tem com quem contar,

compartilhar nas horas vagas

Aconchego de um lar

Com irmãos e os pais amigos

Que sofrem a ausência de filho.

Pensa estar feliz

Mas verá ,quem sabe tarde,

Que nada vale a pena

Se não tiver amor de mãe

Que lhe faça um carinho,

Pois a vida é fumaça

Que se esvai com o vento.

Quando vê já foi longe

O tempo que desperdiçou.

Ela ajuntava coisas...

Brinquedos quebrados,deixados

Ou apenas um pedaço de papel.

Tudo lhe parecia tão lindo

E a tudo se apegava.

"Larga meu lixo" ela falava,

Tudo era uma festa.

A menina tão linda,

Amorosa como ela só,

Dengosa...doce,

Formosura em pessoa.

Hoje pensa que sabe

Muito mais do que eu.

Parece até que se inverteu:

É a mãe e eu, a filha.

Tudo sabe,tudo ensina...

Nem se lembra que escola

Muito mais que faculdade

É da vida, já vivida,

Com suor e alegria

Com dor sempre aprendendo

Cada dia mais amar!

Filhos,sagrado lhe parece,

E cuida com tanto zelo,

Não se importa se cresceu.

É dela,amor bendito

Concedido pelo criador

E a ela os ofereceu

Para em mordomia os cuidar,

porque sabia que ela seria

A mais zelosa mãe de filhos.

Agora vivem, cada um a sua vida,

Nem se dão conta dos rios

Que da alma brotam...

Lágrimas rolam a todo instante

Por ver se esvair a alma

Sem que possa fazer nada

Pra feliz compartilhar

Dos seus,os últimos dias,

Pois pressente o seu fim.

Vai embora sem ver concretizado

O sonho de tê-los perto,

Escolheram ficar longe...

Sofre já a desventura de pensar

Que podem sofrer remorso

De não terem participado

Muito mais de sua vida

Pois pensam que crescidos

Já não mais dela precisam.

Ela se foi...não voltará...

Fica o ninho agora realmente vazio,

E os filhotes que voltarem

Ficarão sós, no ninho!