Lótus Negra
Na sombra do vale da morte
Nasceu uma flor de mistérios.
Seu cheiro de morte é mais forte
Que o leito de ventos funéreos.
A flor de tão negra é sombria
E esconde o poder de endeusar,
Esbanja o fervor da magia
Na aura de quem a encontrar.
O fel do desprezo não tira
Da flor que das sombras eu trago
Tamanha beleza que inspira
Cobiça nos olhos de um mago.
A Íris não deu a mensagem
Gerânio ficou mais alegre
A Hera traiu na viagem
A Prímula contraiu febre
O Cravo parou de sofrer
Centáurea matou seu amor
A Lírio pecou por querer
Jacinto aceitou sua Dor
Papoula tornou-se ruína
Tulipa declarou seu ódio
Lilás transformou-se em neblina
E foi a Violeta ao pódio!
Camélia sujou-se em defeito
Crisântemo ficou irado
Narciso nasceu imperfeito
Jasmim teve o ser rejeitado
Até Margarida pecou
Orquídea ficou horrorosa
Com Dor Girassol declinou
Peônia rasgou-se amorosa
E Rosa morreu de pavor
Depois que a negra flor nasceu.
O belo nascer de uma flor
A Lótus Negra envelheceu.
E quando tudo está perdido,
Se o chão tem as cinzas da guerra,
Eu vejo um mundo sucumbido
E a Lótus viva e firme em terra.
Se a morte vier me buscar
Por causa do meu coração,
Meu anjo, você vai jogar
A Lótus sobre o meu caixão.
A Lótus Negra é minha amante
O símbolo do meu prazer
O negro olhar em seu semblante
O beijo que me faz arder!
A Lótus é mais que uma flor,
É toda a beleza do horror
O fel corrosivo da Dor
O negro presente do amor.
O mundo verá a nossa verdadeira força no mais severo inverno, no desabrochar da flor de Lótus.