Lótus Negra

Na sombra do vale da morte

Nasceu uma flor de mistérios.

Seu cheiro de morte é mais forte

Que o leito de ventos funéreos.

A flor de tão negra é sombria

E esconde o poder de endeusar,

Esbanja o fervor da magia

Na aura de quem a encontrar.

O fel do desprezo não tira

Da flor que das sombras eu trago

Tamanha beleza que inspira

Cobiça nos olhos de um mago.

A Íris não deu a mensagem

Gerânio ficou mais alegre

A Hera traiu na viagem

A Prímula contraiu febre

O Cravo parou de sofrer

Centáurea matou seu amor

A Lírio pecou por querer

Jacinto aceitou sua Dor

Papoula tornou-se ruína

Tulipa declarou seu ódio

Lilás transformou-se em neblina

E foi a Violeta ao pódio!

Camélia sujou-se em defeito

Crisântemo ficou irado

Narciso nasceu imperfeito

Jasmim teve o ser rejeitado

Até Margarida pecou

Orquídea ficou horrorosa

Com Dor Girassol declinou

Peônia rasgou-se amorosa

E Rosa morreu de pavor

Depois que a negra flor nasceu.

O belo nascer de uma flor

A Lótus Negra envelheceu.

E quando tudo está perdido,

Se o chão tem as cinzas da guerra,

Eu vejo um mundo sucumbido

E a Lótus viva e firme em terra.

Se a morte vier me buscar

Por causa do meu coração,

Meu anjo, você vai jogar

A Lótus sobre o meu caixão.

A Lótus Negra é minha amante

O símbolo do meu prazer

O negro olhar em seu semblante

O beijo que me faz arder!

A Lótus é mais que uma flor,

É toda a beleza do horror

O fel corrosivo da Dor

O negro presente do amor.

O mundo verá a nossa verdadeira força no mais severo inverno, no desabrochar da flor de Lótus.

Jéssica Curto
Enviado por Jéssica Curto em 14/05/2011
Código do texto: T2969239
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