LÁGRIMA NEGRA

Hoje foi um dia

Em que nada

Ou quase demasiado nada se passou

E foi por isso

Que do seu Palácio de Gelo

O Príncipe sem coroa

Uma

Lágrima Negra

Derramou

No meu trabalho

Pus as contas sentimentais

Ou sensoriais em dia

Descobri estar em débito

Devo ao mundo

Alguma alegria

Embora não a verta

Com alguma pena

Deito apenas

Uma

Lágrima Negra

Não que comigo

As coisas não andem bem

A tristeza

Vêm-me do lado humano

E das ausências

De quem eu gosto

Vem de dores que foram importadas

E furaram as minhas fronteiras emocionais

Quando me tentava erguer das cinzas

E sair do Castelo tive de novo que voltar

À sua entrada

E ficar lá

Nesse último refúgio

O derradeiro

Lugar do mundo

Onde eu queria estar

Embora

Neste momento

Não tenha outro sítio onde ficar

E é por isso

Que aqui estou

Um pouco por mim

E muito por vós

Lágrimas Negras

A derramar

Num pranto silencioso

Que rega as palavras

E faz nascer

Novas criações

Com coita

Mas também

Com algumas ilusões

Pois são elas e os sonhos

A esperança

Que novos tempos hão-de vir

Que leva a que essas

Lágrimas Negras

Não se transformem num oceano

Que me afogue

E que no meio dele

Já ninguém

E para sempre

Me possa

Ouvir

Ou pelo menos sentir

Porque

Quero que olhem para mim

Como alguém válido

Que valha a pena

De um beijo

Um abraço

Um amor

Uma amizade

Sendo apenas transitória

A

Lágrima Negra