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água de torneira
coração de leão
uma pereira
que dá feijão
as formigas
passam desavisadas
muito ocupadas
pra prestarem atenção
na picada do mosquito
a pele dá um grito
a mão escuta
e dá um tapa
o pobre inseto não entende a brutalidade
dessa incivilizada humanidade
a chuva cai
e se irrita
ninguém segura
e ela se vai
as embalagens são os marujos
rolando pros boeiros sujos,
canais pluviais
e eu aqui pensando
o que estou fazendo?
um garoto esperando na fila
vê uma mulher nua
gritando no meio da rua
a culpa é sua! a culpa é sua!
os policiais negociavam com os bandidos
o preço do meu irmão
e as formigas, muito ocupadas
estavam distraídas
pra tomarem as medidas
necessárias
e eu aqui pensando
o que está acontecendo?
enquanto isso a lesma dançava no sal
uma barata comia palha italiana
Hitler fodia uma cigana
enquanto chupava o pau
do Marquês de Sade
o padre abençoa os carros
e come as crianças
pra não morrer de fome
porque não tem dinheiro como o pastor
as grades são enferrujadas
as paredes mofadas
mas o menino vai voltar
ele quer voltar
esse é seu lar
o macaco me deu bom dia
o grilo me chamou pra ir a taberna
pra tomar cerveja
e a mula tinha em brasa
o lugar onde sua cabeça devia estar
e perto da nossa mesa
um garoto negro procura sua perna
no cais
os tubarões
agora são amigos dos surfistas
e vigiam as crianças
enquanto os pais
usam a praia como banheiro ou motel
as lagartas coloridas,
vegetarianas esforçadas
comem muito e depois ficam voando por aí
morrem sem comer nada
durante o mes
e tudo na sua ordem...
o poste mija no cachorro
que late furioso
e o poste medroso
foge com o rabo entre as pernas
os punks antes pobres
de cabelos arrepiados e coloridos
drogados, auto-destrutivos
agora são nobres
revoltados com os motivos
que levam os homens menos instruídos
a fazerem greves
deus está aposentado
foi para um asilo
perto do monte olimpo
junto com alguns colegas (mais importantes)
ele vê tudo de lá
os atrasos, as faltas, o cartão de ponto
teste do sofá...
os japoneses criam um limão
com gosto de morango
os brasileiros comem salmão
e ele vê tudo de lá...
como não?
as formigas continuam trabalhando
as folhas caem
as vidas se esvaem
onde se planta gente
não nasce senão fedor
o sol segue brilhando
generoso e pontual
e eu me pergunto:
será que é só isso?
é melhor morrer jovem
ou viver velho?
depende de cada um
os espanhóis gostam de ouro
os utopianos de ferro
o caracol arruma as roupas
divorciado,
está de mudança
e sem dinheiro pra pensão das crianças
desesperado
sem ter nem um casco
a esperança ainda está viva
ela hoje é enfermeira
velha, caduca e mentirosa
diz aos pacientes terminais que vão ficar bem
que alguém pode me amar
e outras besteiras
enquanto escuto "...Everything zen, Everything zen..."
do Bush
os gatos fazem os bigodes
saiu de moda o visual antigo
é assim na vida real
a rainha mutila o zangão
suga tudo, seus intestinos, fígado, estômago, leva até o seu saco
e ele morre sem ser satisfeito
essa é a vida sexual
das abelhas,
o corpo dela igual a um botijão
cheio de esperma
e, sem nada entre as pernas
morre o zangão,
em algumas horas
os homens sobrevivem
conectados a aparelhos
gostam de câmeras e espelhos
o caos é controlado
em tudo há segurança
no mundo congelado
pela ignorância
a violência não é privilégio do estado
os ratos lançaram seu programa espacial
querem descobrir se a Lua é mesmo de queijo
no mundo inteiro
em tudo o que vejo
há competição
as peruas querem chegar primeiro
aos anéis de Saturno
e os homens mais fortes,
com seus corpos
moldados a esteróides
lutam pelo cinturão de asteróides
Plutão,
planeta então rebaixado
está internado
se encheu de drogas e entrou em depressão
coitado
em meio a solidão...
mas fora isso está tudo bem
enquanto tomo leite com rum
o doutor está chegando com minha injeção
que me pôe pra deitar quando o sono não vem
me atiro nos braços da solidão
não espero nada de ninguém
adeus, até amanhã, se houver um...
pois tudo isso vai piorar com o tempo