Nó Cego...
NÓ CEGO…
Rogério Martins Simões
Vezes sem conta…
que contam?
Os deslizes desta vida
nas bordas;
Os precipícios inclináveis
sem retorno;
Ou a demência
descontrolada num forno
Nos baloiços dos suplícios
sem cordas…
Deixo ir os sentidos…
que montam?
A carcaça seca
de um velho barco
Ou o ginete
de um gato parco
Capado,
coitado,
sem ego…
De gatas,
às gatas,
em nó cego…
Às vezes tenho guizos…
que gizo?
A senda de um marinheiro
acorrentado…
A contenda
de um plano inclinado
Ou a arte
de escapar à descida,
Atravessada,
cordata,
vencida…
Deixo estas palavras:
descontem!?
Confusos sentimentos
sem viso?
Deixo de fora a estética:
preciso?
De um soneto heróico
de Camões
Ou de um jogo
combinado a feijões?
Hoje nada conta:
abro o misturador
E pico as palavras
no obliterador…
Vezes sem conta!
Desmontem…
Lisboa, 01-07-2008 20:57:28
(Registado no Ministério da Cultura
Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
(Poema dedicado ao filho da minha companheira, Ricardo Palma Ferreira, que faleceu, em 1989, num acidente de mota na ponte 25 de abril)