Seduzia-te a pureza

Que no meu olhar luzia.

Esperei-te em tempo de guerra

No roseiral cobiçada

Porém, leal me quedava

Na ilusão em que cria.

Pela ilusão levada,

Teus espinhos não discernia

Família, nunca a tivera,

Contigo uma queria.

Colheste-me em primavera

Botão fechado de alvura

Misturada de inocência.

Levei-te de mim à frente

Levantei-te triunfante.

Quando no alto te achaste

E desse alto me olhaste

Tornaste-te indiferente.

Concebi tua semente

Dei-te a vida confiante

Dizias-me, delirante,

Ser de todas diferente

Pois se tantas experimentaste

Enquanto eu me dividia

Entre trabalho e família

E tua mãe me tornava

A ti, tudo te sobrava

Que nos meus ombros tomara

Todo o peso e fadiga.

Chegavas de madrugada

E tinhas a mesa posta.

Minha boca não se abria.

Quando tu adormecias

É que o meu pranto soltava.

Tomei nojo de teu cheiro

Gabavas-te de ser macho

Onde o aprenderias?!

Que a mim o não mostraras.

Íamos à praia, lembras?

Olhaste-me com cobiça

Apossaste-me à força

Derrubando-me na cama

Aonde me desfloraras

Mas agora só querias

Provar a ti que me tinhas

Semeaste-me com raiva

Outro filho na barriga

Mas como o não desejavas

Levaste-me numa briga

Às fazedoras de anjos

Amigas da tua amásia

E assassinaste meu filho!

Quem sarará este pranto?!

Mas ainda insatisfeito

Falavas a toda a hora

Que me ias dar a desgraça

Andavas de arma na cinta

Sina tua, a cobardia!

Porém, eu tive mais força!

Habituada à pancada

Que tu vias que eu levava

Bateste-me na esperança

Que eu batesse em retirada

Deixando-te a minha casa

Deixando-te a minha filha

Para ser enteada de outra.

Mataras minha alegria

Mas quando te disse um dia

Que o divórcio rolava

Caíste a chorar na sala.

Coloquei-te a mala à porta

E mudei de fechadura.

Perdi anos em contenda

Porém diz clara a sentença

Ser de tudo tua a culpa.

Que a minha vida desnuda

Te alente, irmã molestada!

Não baixes os braços nunca!


2/12/2003