zapeando a solidão
caminho entre os cômodos, da sala ao quarto do quarto à cozinha; impaciente a zapear o controle da tv por assinatura; e me desligo ao desligar a tv; e volto ao quarto, sento ao computador; uma tela à minha frente e simplesmente não sei o que fazer; do quarto à cozinha, abro a geladeira; água quente, copos sujos, desce rasgando e sem vontade a água que sai do gargalo e beija a boca; é noite e muito noite; noite quente, de outono veraneio; é noite e que céu é este: estrelado, vivo, brilhante, perpétuo; é o céu desta noite, chapéu deste mundo, véu do meu coração; o mundo grita dentro de mim no silêncio deste quarto, chama e estende sua mão; passivo eu fico, ativo querendo ser; solidão!
queria desta corrente me libertar; alguém que viesse com drops de anis e coca-cola; posto que não há maior solidão que a solidão da companhia; a solidão do bom-dia meu filho; a solidão do bom-dia meu vizinho; a solidão do bom-dia funcionário do mês; a solidão de não ter um bom-dia meu amor; pois amo quem ainda não conheço e quero amar; não amo mais quem me conhece e comigo quer estar; não amo mais a vida que levo e não sei como mudar...
e ainda é a mesma noite; noite longa será esta noite; eternamente longa...