Continue caminhando
Quando o vento soprou mais ao norte chegou a hora de partir,
o momento em que os cacos entre os dedos começaram a doer,
tingindo de magenta uma terra árida, já sem flores,
a hora em que as recordações voltaram como adagas,
estilhançando almas que não nasceram para se unir,
pressionando cicatrizes nunca curadas,
vimos que o cristal rachado jamais seria reparado,
por isso continue andando e não olhe para trás,
continue andando, apenas siga em frente...
Quando seu coração se fechou sem chances de retorno,
quando seus lábios anestesiaram e tornaram-se rígidos,
as palavras permanceram encarceradas em almas tristes,
ficamos no meio fio de uma avenida esperando um acidente,
desejando que dores maiores fossem mais intensas que o passado,
encenamos spots de estranhos civilizados tentando um recomeço,
mas as marcas que carregamos dilaceram de dentro para fora,
por isso continue andando e não olhe para trás,
continue andando, sopre a poeira e deixe no esquecimento...
Mundos distantes nos fizeram sombras nas paredes de uma caverna,
pensamentos alijados de sua costumeira musicalidade silenciaram,
talvez estivessemos nos preparando para ser quebrados,
mas gritos mudos de uma revolta ressentida podem ferir mais,
e quanto prazer doloroso experimentamos nesse sofrimento?
quanto de sanidade relegamos a aparência externa?
quanto de loucura tomou conta de nossos recônditos?
por isso continue andando e não olhe para trás,
continue andando, o mar apagará suas pegadas na areia...
Continue andando, continue andando...