O PRÍNCIPE NEGRO
Ode ao abandono e ao fim de tudo, do amor, da amizade, da esperança de tudo quanto de belo rege a alma de um ser
O PRÍNCIPE NEGRO
Vivia num palácio de gelo
Bem no meio de uma tempestade
Cujo vórtice
Estava prestes a atingi-lo
Logo naquele preciso momento
Em que estava preparado para tudo
Menos para ela…
Vivia não vendo, mas adivinhando
Distantes Jardins Encantados
Nos quais apenas poderia pensar
Mas não tocar
E nem sequer o seu mágico pólen inspirar
O Príncipe negro
De triste
E sombrio olhar
Olhava vezes sem conta
Para a sua princesa
Que estava morta
No seu coração
E nessas alturas de maior dor
Ele derramava lágrimas escuras
Que corriam
Pelo seu queixo e peito
Que outrora
Tinham sido dourados
Passava os seus dias inócuos
A olhar um céu cinzento
Onde o sol se recusava a morar
E a escrever as palavras pretas
Que saiam da sua pena velha e gasta
Pela esperança morta
Deixara de acreditar
E vivia cada dia
Apenas porque o seu corpo assim o queria
Dado a sua alma ser uma entidade opaca
Mais morta do que viva…
A felicidade era coisa que ignorava
Conheceu-a noutra realidade
Para a perder
E agora nem uma memória restar dela
Restando apenas a dor
O seu lado obscuro
O seu lado total
A única coisa
Que ainda brilhava em si
Eram os seus sonhos
Sonhos lindos,
De encantar
Difíceis de descrever
Pois eram infinitamente animados, complexos
E coloridos
Sem grande lógica
Por vezes…
Mas o que isso interessava
Se neles residiam a única felicidade
Que se esvaía
Mal ele acordava
Para mais um dia sem nada
Por isso
Ele passava os dias
A sonhar
Com os sonhos
Pois sem sonhos
Ele
Nada mais seria
Do que a essência
Dum buraco negro
Das estrelas mortas
Sem os sonhos
Ele seria
Aquilo
Que desejava não ser:
Um ser animado pelo espírito
Infernal
Do nada mais poderoso do universo
Sem os sonhos
Ele passaria de facto
A ser em nome e em titulo:
O Príncipe negro