Névoa

Ela que cobre a todos nós

Que nos traz frio e pesadelos

Opaca nosso sentimento atroz

Leva nossos sentimentos e zelos.

Sobreviver ao abraço gélido

À carícia maliciosa e tênue

Rastejar ofegante e tímido

Os desejos que Deus não atende.

Oh, e ela é onipresente

Nos protege de dor e ardência

Nos impede de sentir amor

Ganhamos a luz e a carência

Ela que de nós tira a vida

Que envolve em lentidão homicida

A alegria de tê-la vivida

O sopro e a cor à nós concedida

E então nasce a inveja

Das crianças que riem e sentem

Da inocência que contra nós peleja

O motivo pelo que nossos sentidos mentem

Ela nos mostra as ilusões

E que o mundo é feito de cera

E o sofrimento toma proporções

Quando as lágrimas amargas não mais caem

Sofrimento mudo

Silêncio doloroso

O mais cinza escudo

Mártir vagaroso

Você sabe como é quando ninguém lhe dá a mão?

Você sabe quando é quando ninguém te afaga?

Você sabe como é indiferença se você chora ou não?

Você sabe como é quando a Névoa te apaga?

Ela se aproxima de almas solitárias

Que nunca encontrariam o caminho da vida

Oferece as linhas contrárias

Em troca da lembrança que pode ser sentida

Os sentimentos se vão, mas as lágrimas permanecem

E uma hora você não sabe mais por quê chora

Talvez esteja bem à nossa frente, mas a Névoa não nos deixa ver

E assim como os sentimentos, as lágrimas desaparecem

O porquê de viver some Névoa afora

E você fica preso nela. É assim que deve ser.

Às vezes o vento sopra e traz lembranças de fora

O preço da verdade é muito grande

O passado e o futuro não fazem diferença agora

A veracidade do coração é inconstante

Senti a lembrança de um toque

Ele ainda queima gentilmente

Lembre-se do que a Névoa quer que se troque!

Ele não faz mais diferença, sinceramente.

Mas quando a vida cai em desesperança

O homem é levado ao desespero

E quando a Névoa avança

Qualquer preço é rasteiro

Se cem vespas picam alguém

É muito fácil esquecer há quantos metros se está do chão.

Quando se sofre, só se quer parar a dor

Não importa o preço a se pagar então...

Se os sentimentos causam-nos dor

Então por quê não entregá-los à Névoa?

Tirando todos não há como repor

Mesmo que lembranças venham na révoa

É um pacto inteligente

Dar emoções por razão

A realidade não mente

Se perder toda a emoção

Mas o tempo passa e se percebe

Que a sádica não leva tudo

O sentimento que o corpo perece

Cravado em seu corpo imundo

Você está sozinho, consegue perceber?

Você consegue enxergar através do cinza?

Você quer chorar? Consegue se encolher?

Percebe seu erro agora que não pode morrer?

Não mais sentirá calor alheio

Aqueles quem prezou nunca mais te tocarão.

Oh, que isso tudo fosse devaneio!

Aqueles a quem amou são os que te queimarão!

Solidão, solidão

Por todos que te perderam

Perdido na solidão

Do modo que prometeram

Preze a presa, a presa tem pressa. Preze a pressa, a pressa da presa. A presa faz preces, preze as preces da presa! Faça preces pela presa, pois ela não escapará.

Preze a prisão aonde a presa faz preces, onde a pressa pela morte toma seu coração.

Preze a presa, faça preces pela presa! Preze a presa na escuridão

Solidão, solidão

Do modo que prometeram

Morto na solidão

Do modo que esqueceram

Erros sem retorno

Escolhas decisivas

Vejo seu contorno

Suas linhas sempre ativas

Ó, Névoa, tenha piedade

Pois a dor nos leva a escolhas precipitadas

Ó Névoa, vê que tenho saudade?

Saudade da vida que me foi retirada!

Ouço passos no escuro, sinto muito meu amor...

Talvez seja muito tarde.

Tarde demais para mim...

Escape e viva

Viva alegria sem fim...

Ela que leva tudo

Ela que suga a alma

Ela que toma o mundo

Com eterna calma

O fim agora chega, e a escravidão começa

Negue seus valores, negue sua promessa.

Negue sua honra, negue seu valor

Negue sua vida, negue seu amor.

Negue a existência, negue esse mundo

Negue sua família, negue lá do fundo

Negue seu romance, negue sua rotina

Negue seu olhar, aceite a Neblina

Negue seus desejos, negue aspirações

Negue sua pátria, não siga direções.

Nada pode ser feito além de negar

Além de obedecer, além de caminhar

O fim chegou, e a Névoa vai ganhar

É tarde demais, tarde demais para mim

Embarco agora no tormento sem fim.

Isaque Lazaro
Enviado por Isaque Lazaro em 11/04/2011
Código do texto: T2902463
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