Horas Macilentas
HORAS MACILENTAS
Quem saberá, incautos e libertinos,
Destas horas dormentes,
Em que se trafega no obscurecer da vida?
Pelas escusas vias da solidão material,
Muitos devoram as próprias mãos...
E sequer se espera a hora crua e triste
Das cinco da tarde,
Para que se enxote dos seres
Toda e qualquer sombria dignidade.
Hoje são gerações que se desprendem
Num grito abafado pela violência do rádio,
De seu pensar e de seu viver.
Sobrevivem, sem adornos,
Em horas macilentamente doentes,
Sua dormente desigualdade vitimada.
Enquanto estes se levantam,
Aqueles há que sequer deitaram-se
Na fúnebre esperança de seu salário.
Retornam, sem entender o porquê,
Às suas cavernas isoladas
Onde o pão é raro e a seca carne
Foi infalivelmente minimizada.
E são tantos os rostos a trafegar
A vegetar, a aguardar...
Quem sequer poderia imaginar,
Lúbricos,
Que neste dias vespertinos
O Homem devoraria o Homem?
Por entre os gigantes vorazes
As pequenas ovelhas cobaias vêm
E são as sombras delas que as levam,
Pois seus ossos desnudos
Não são mais o relógio cartesiano da perfeição.
Elas vêm lamber impudicamente
Os pés da opressão,
Pastando caladamente
Suas misérias e doenças.
Dormindo ignorantes de sua coletividade,
Seguem sem saber aos fornos
Da nova Inquisição,
Promovida de forma ignominiosa
Nos porões e nos salões
Da memória Capital (lista?).
Assim,
Palidamente vão-se as horas,
Dos que nada tem e fingem
No seu vazio de átomos,
A consistência úmida e insegura
De um mero resquício de consciência.
Jaqueline L.