Vale dos últimos
Mendicante a implorar piedade
Caminha pelo vale dos últimos,
Declarou morte a esperança,
Não consegue mais ver o horizonte.
O brilho dos olhos secou,
Assim como os lábios rachados,
Pois há muito não pronuncia nada,
Chora sem lágrimas, apenas sente a tristeza no peito,
Dor transpassada pela punhalada da fome, vida desolada
Do ser destruído, banido, sem permissão se.
Arrasta-se pelo infortúnio, descansando ao relento
Vale dos esquecidos, porém passeio de muitos,
Contrastando a cega romaria urbana que passa,
Enquanto cicatrizes riscam corações ao próprio destino
Deste grande número de ninguém esmoleiro,
Apesar de inclusos na população mundial,
Os quase sem senso nem conhecem o recenseamento.
Fruto de injustiça, de traição, agora mendiga o pão,
Uns carregam a culpa de ter confiado no homem
Outros herdaram este berço cruel, Infelizes sina como compensação,
Sem rumo caminha rasgado, conduzindo ainda resquícios de vida,
Nem mesmo mantém as mãos estendidas,
Pois se alongam a silhueta perdida
Da exótica figura depreciada...
Quem se coloca melhor que ti?
Quem duvida que por baixo desta casca esteja uma criatura,
Foste tão ruim assim pra colher pedra,
Ser castigado e silenciado pelo algoz?
Sua sentença é a própria essência e não nos cabe julgar,
Misericórdia não nos pode faltar.
Mas nada foge do contemplar de Deus,
Que promete preceder o último...
Que se arrasta pelo vale dos últimos, descansando ao relento...