TRISTEZA DO INFINITO

Anda em mim, soturnamente,

uma tristeza ociosa,

sem objetivo, latente,

vaga, indecisa, medrosa.

Como ave torva e sem rumo,

ondula, vagueia, oscila

e sobe em nuvens de fumo

e na minh'alma se asila.

Uma tristeza que eu, mudo,

fico nela meditando

e meditando, por tudo

e em toda a parte sonhando.

Tristeza de não sei donde,

de não sei quando nem como...

flor mortal, que dentro esconde

sementes de um mago pomo.

Dessas tristezas incertas,

esparsas, indefinidas...

como almas vagas, desertas

no rumo eterno das vidas.

Tristeza sem causa forte,

diversa de outras tristezas,

nem da vida nem da morte

gerada nas correntezas...

Tristeza de outros espaços,

de outros céus, de outras esferas,

de outros límpidos abraços,

de outras castas primaveras.

Dessas tristezas que vagam

com volúpias tão sombrias

que as nossas almas alagam

de estranhas melancolias.

Dessas tristezas sem fundo,

sem origens prolongadas,

sem saudades deste mundo,

sem noites, sem alvoradas.

Que principiam no sonho

e acabam na Realidade,

através do mar tristonho

desta absurda Imensidade.

Certa tristeza indizível,

abstrata, como se fosse

a grande alma do Sensível

magoada, mística, doce.

Ah! tristeza imponderável,

abismo, mistério, aflito,

torturante, formidável...

ah! tristeza do Infinito!

Conde Diego O Poeta
Enviado por Conde Diego O Poeta em 28/03/2011
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