OS QUATRO RETRATOS
SENTADA A PENSAR TURBILHÕES VIAJANDO EM MINHA MENTE.
VEJO O INÍCIO DE CADA PENSAMENTO,
MAS NÃO SEI SEU DESTINO.
ELES SE EMARANHAM NO ROLO
NO BOLO DE IDÉIAS SEM FIM.
TENTO ENTENDER
COMO CHEGUEI ATÉ AQUI,
DEI TODOS OS PASSOS
PENSANDO ACERTAR,
USEI MEU CORAÇÃO DE MODELO,
MAS PASSADOS MAIS DE VINTE ANOS
NÃO SEI ONDE ERREI
OU SE ERREI.
OLHO AS QUATRO FOTOGRAFIAS DA MESA.
ME VEJO MENINA,
OLHOS GRANDES,
VIVOS,
ABERTOS PARA A DESCOBERTA DA VIDA.
ME CÁLO.
DEPOIS MEUS PAIS,
AINDA CHEIOS DE DESEJOS NA FOTO,
A VELHICE PREDITA,
MAS AINDA DONOS DE SEUS CORPOS
À FRENTE DE SUAS VIDAS.
E AGORA,
DESGASTADOS,
COMANDADOS,
DOENTES.
VEJO MEU FILHO:
LINDO!
ADOLESCENTE NA FOTO.
E AGORA SEI QUE NÃO SABIA,
O QUE HAVIA POR TRÁS DE SEUS OLHOS.
ELE JÁ FREQUENTAVA OUTRO MUNDO,
ONDE AS PORTAS SE FECHAVAM PARA MIM.
HOJE EXISTE UMA JANELA,
E EU POSSO OLHAAR.
MAS PEÇO VENDAS A DEUS,
PORQUE JÁ NÃO QUERO VER,
SABER,
EU ERA MAIS FELIZ SEM PORTAS OU JANELAS.
E VEJO VOCÊ FILHA,
QUE PENSEI CONHECER,
ENTENDER,
SER AMIGA,
MAS ME ENCONTRO PERDIDA.
NÃO TE CONHEÇO,
NÃO SEI COMO SE ENCADEIA SEUS PENSAMENTOS.
ME ODEIAS,
ME CULPAS POR TUDO QUE NÃO VIVEU
NESTES TEUS 23 ANOS.
E EU TE DIGO QUE TE CUIDEI,
TE PROTEGI,
E VOCÊ ACHA QUE EM TUDO ERREI.
PERDÃO!
PERDÃO POR EU TER SIDO MÃE.
PERDÃO POR TER TE DADO A MÃO.
PERDÃO POR TER TE DITO NÃO.
NÃO SEI COMO SERIA,
SE EU TIVESSE LARGADO A MÃO,
SE EU TIVESSE VIVIDO ALHEADA,
MAIS EGOÍSTA,
CUIDANDO SÓ DE MIM.
SERÁ QUE SERIA DIFERENTE?
SERÁ QUE VOCÊ ME RECONHECERIA
PELO QUE DEIXEI DE FAZER?
MAS AGORA,
PARADA DIANTE DOS QUATRO RETRATOS,
ESTOU INERTE,
SEM SABER COMO CONTINUAR.
SE ERREI, MEU DEUS,
PERDOA-ME!
FAZ-ME REVIVER,
PORQUE EU MORRI POR DENTRO.
MEUS PASSOS JÁ NÃO QUEREM ANDAR,
MEU CORAÇÃO TÁ DEVAGAR,
MEUS PULMÕES NÃO RESPIRAM.
ESTOU EM PRANTOS,
A VIDA EVADIU-SE DE MIM.
OS RETRATOS ME DIZEM:
É TEU FIM!
AZAR O SEU!
O CÉU JÁ NÃO TE PERTENCE,
E NÃO VAIS VIVER OUTRA VEZ!
CALA-TE!
DESISTA!
SUBSISTA NESTE TEU COMA ATÉ O DIA FINAL!