Estação: INVERNO
Que dia é hoje? Dia de que?
É noite ou dia? Tarde ou manhã?
Há sol? Há cor? Há borboletas?
Olhos fadigados de peregrinos cegos,
vislumbram desejo infantil de milagre.
Dia? É dia de enterro.
Enterro, pois, de quem ou o que?
É enterro de gente, de sonho, de querer,
(sem mais poder), de gritar, sem fôlego ou saliva,
sem boca, voz e ar.
Enterro de coisa alguma, de esperar, sem mais certeza,
de gritar sem mais garganta, de olhar sem mais olhos,
sem lampejo ou meia noite, pesadelo ou insônia d'alma,
de corpo e essência.
Correr sem pernas, sem braços e mãos, espada,
sem mais peleia, sem mais suor, sem mais sangue,
sem mais atenção, sem mais nada, nu.
Simplesmente nu.
Espada segurada pela lâmina, contra o peito.
Pés e abismos, passos e quedas, e olhos ao longe.
Olhando, inerte, para presente e passado e passado,
e passado.
Sentidos se buscam, mutuamente, e não se encontram.
Lábios buscam ouvir, olhos buscar cheiros, mãos buscam sabores.
Mas me diga? Já é de manhã? Há sol? Há borboletas? Não há calor?
Só o inverno que chega mais cedo.