Aos Finados
Aqui jaz João Leite
Vilão baiano
Trouxe do caz do porto
A ginga nortenha e um olho torto
Deixem flores marinhas
Em sua cova e em algumas vizinhas
João Leite, pescador
Morreu lá
Aqui apenas jaz sua dor
Aqui jaz Maria Pequena
Suicidou-se em Diadema
Era menor, metro e meio
Lindos olhos, fartos seios
Vagava procurando rumo
Entre visões causadas pelo fumo
Maria Pequena suicidou-se
Com pena de si
Matou sua pena, e calou-se
Aqui jaz finado Pira
Não tinha família
Enterrou-se em terra vazia
Da companhia
Da simpatia de pedantes
Estranhos moleques e amantes
No fundo de um quintal
Em pleno matagal
Finado Pira
Morreu matado
Sozinho, anônimo, apagado
Os corpos destas covas cheias
Umidecidas às lágrimas lembradas
Às lágrimas esquecidas
Não sentem o frio que vos esquenta
Nem em sangue seco, circula este candôr
Que vos consola
E o sorriso vivo, pífio, bobo
Não se estampa em suas faces
Apenas letras e inscrições
Aqui jaz o mundo
Foi-se pelos poros
Dos analfabetos das nações