MEU SUICÍDIO

Entardecia, o sol

Caído ao val, eu, pensativo,

Ruminava a vida.

Na sala, a luz de um tímido farol

Mostrava-me a mobília já cansada.

Ao lado, um galpão, velho, esquecido,

E a fuga dos morcegos no paiol.

Eu, girando o olhar ao meu redor,

Tremia ao horror de um mal juízo.

A noite chega, a lua sobre a mata

Asperge a doce névoa incandescente.

No pé da serra, a estrada serpenteia.

E um cão a descansar na minha frente.

Ouvindo o gemer de uma cascata,

Eu, sentado ali na minha varanda,

Pensava não sei quê.

Para além, muito além, dois meus vizinhos

Passavam pela estrada mal traçada.

Latia o cão à beira do caminho,

E um oi eu respondia do outro lado.

Depois tudo se cala, o vento errante

Passava a balouçar as trepadeiras.

Dentro do meu peito, um amor antigo,

E um último olhar na prateleira.

E o ímpeto algoz, e o pranto e o medo

Cavava a dor de um sonho já perdido.

Depois dei-me ao nó que tudo apaga,

E a corda eu ainda senti em meu pescoço,

E sem mais eu fazer, sem mais esforço,

Morri naquela noite malfadada.

Geraldo Altoé

11-10-2006

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Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 01/11/2006
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