Nostalgia!
Hoje eu descobri que deixei o tempo passar: os minutos, os segundos, as horas, só para pensar no meu próprio eu.
Hoje percebi ser tão insignificante para a vida, vi que deixei as coisas simples da vida como uma criança que aprende a falar, a escrever, a pedir.
Vi que fui de uma ingratidão tão irrevogável que nem menos o futuro poderá apagar esta mancha deixada pela ignorância de um jovem rebelde.
Deixei de ver e sentir o amor daquelas pessoas que realmente me amam, me criam, me dão sustento para poder ficar em pé, me dão um teto e um chão para não sentir frio, me dão alimento para não sentir o estômago reclamar de fome. E eu por sinal deixei os olhos se fecharem para essas pessoas, olhei param meu próprio sol, olhei para meu próprio umbigo, olhei para meu eu próprio.
Sou um tolo, um rebelde, um incapaz, um sem significado e, se tivesse significado no dicionário, seria: Inaceitável.
Julgo-me todo, não mereço a misericórdia de ninguém, nem de Deus. Mereço ser amerressado à lança da vida, ser julgado em um juízo final. Mereço sofrer pelas conseqüências nesse decorrer da vida. Mereço ser condenado à pena máxima, nem isso explicaria e corresponderia ao que fiz e deixei de fazer.
Tenho vinte anos e deixei esses anos passarem, neguei muitos carinhos, abraços e troquei pelas grosserias, pelos nãos e xingamentos de um jovem revoltado sem saber o porquê.
Hoje restará acho que mais uns quarenta anos para cultivar essas pessoas, mas isso não apagará as frases mal ditas.
Hoje eu vejo como foram e são importantes – eu ainda lembro: Lembro quando minha mãe ficou sabendo que ficou grávida, lembro do sorriso desse dia. Lembro da primeira vez qm que eles me viram num vídeo de ultra-som. Lembro das fortes dores sentidas num parto complicado. Lembro da primeira vez em que eles me pegaram no colo. Lembro das noites mal dormidas para poder me alimentar e me limpar. Lembro do pai trabalhando até a noite, fazendo várias horas extras para poder me sustentar.
E o que eu dei para eles ao longo desses vinte anos? Ingratidão.
Deixei tudo isso passar para trocar pelo nada, pelo incerto. Queria a liberdade viver, mas que graça tem a liberdade sem estar com aqueles que nos amam? Não há preço que pague! Fui supérfluo.
Eu choro, pois percebi que um dia irei perdê-los e o que apenas irei sentir são muitas saudades. Já sinto saudades só no pensar.
Não irei mais tê-los em meus braços, em minha vida, apenas irei vê-los em uma foto no auto-retrato.
A vida foi como o mar para mim: Parecia que eu estava numa calmaria, mas acabei caindo entre os gritos de uma agitação traiçoeira. Fui levado para fundo aonde acabei sendo afogado pelas grosserias.
Enfim, hoje eu ando calado, pois quem cala concente. Eu sei que o tempo não recuperará o que já perdi. Hoje eu vi que, nas minhas atitudes e decisões, fiz a minha vida tornar-se em indecisões que me levaram a nada.
Hoje e sempre serei apenas um nada, mas que se achava ser algo. Um tolo, sem limites.
Renato F.Marques.