Vigia
Vigia teu coração de perto
Conspire com os ventos
Converse com as nuvens
Pois tudo é passageiro
Nessa longa viagem onde nem a morte é o fim.
Nem a idéia do fim, é afinal o derradeiro momento.
Vivemos múltiplas despedidas diárias
Do dia que acabou,
Da emoção que secou,
Da mágoa que cicatrizou
Do corpo que enrugou e perdeu força
Da vida entrevada contida
nas frestas e nas miopias
Vigia teu coração de perto
Ancora sua razão na alma
Para que seja finalmente livre e plena
Passeie no horizonte das emoções
E tenha um plano de vôo
e não de aterrissagem
Lance-se ao mundo e
Deixe o mundo lançar-se em você
Nessa mistura indissociável
Seja um composto genético contagiante
Pois quando tudo for embora
Restará moléculas, átomos, cheiros e fagulhas
De você dispersas e concentradas
A anunciar que você esteve aqui.
Fez seus caminhos pelos passos.
Riscou as palavras com seu verbo
E viveu a seu modo.
Tendo a tristeza e a alegria
Tendo o tudo e o nada
Costurado na bainha do tempo.