Perdida

I

Sendo criança perdi-me um dia

atrás da caravana de rebuçados

- era cinco de janeiro -

pelas ruas gigantes da vila.

O medo avisou e não os doces

que já os bolsos ateigavam,

mas estava muito além

do que conhecia.

Quieta, olhando ao longe,

um senhor me achou.

Não lembro quem era:

nem a sua cara,

nem a sua roupa,

nem o seu nome.

Lembro que chorei envergonhada

quando ele perguntou,

por não saber voltar à casa.

Sabia era só um telefone.

II

Caminho ainda por gigantes ruas

perseguindo dos pensamentos

a amarga caravana errática.

Agora que sei como voltar à casa,

se alguém me achasse quieta,

olhando ao longe,

e perguntasse,

nem cara,

nem roupa,

nem nome,

choraria de novo, desconsolada,

por não haver já nenhum telefone.