A MERETRIZ

O corpo já não é tão formoso,

entretanto, ainda alimenta o fogo célere

de algumas paixões,

e os desejos de uns tantos devassos.

Conformada, a carne vai perdendo suas forças

enquanto a alma produz um surdo clamor.

Essa é a sina da meretriz;

mulher de vida fácil.

Mas, que vida é essa?

Amante de homens frívolos ou carentes,

jamais fora verdadeiramente amada.

E se um dia o seu coração amou,

fez desse sentimento o maior dos segredos,

elegendo por companhia a solidão.

Ébria pelo álcool e entorpecida pelo baseado,

certamente a sua falta de pudor escandaliza.

Mas ao fim do expediente, verte lágrimas copiosas:

“ — Deus vai me castigar.”

Sim, ela é religiosa,

devota de Nossa Senhora.

De repente seu quarto se ilumina novamente,

a besta ferida pelo ciúme a alveja no peito.

O sangue se mistura ao pranto,

é o começo da sua libertação.

Na cama jaz a meretriz, e ao mesmo tempo

uma alma de mulher sofrida ascende ao espaço:

“ — Deus teve piedade da minha alma.”

Ó, meu Senhor!

Mostrai vossa luz aos criminosos e viciados.

Olhai também pelas meretrizes.

Todavia, eu vos peço principalmente, meu Pai,

tende misericórdia dos seus juízes.