Cedo e tarde

Te vi, uma vez, e tal ventura me abrasava

De sonhar-te um dia minha mulher;

Mas algo de infeliz me torturava,

Eu passar por ti sem te tocar sequer.

Ao aquecer da manhã sais cantarolando

Pelas ruas coloridas; brilham teus pingentes

Nesses olhos verdes que vão verdeando

O mar e deixando fascinada toda gente.

De quem herdaste o busto angelical?

Quem sabe não seria de uma santa,

Aquela meiga e lívida vestal

Que nas pinturas se vê sob uma manta?

Em teu caminho o sol acaba de nascer

E eu já vejo no horizonte o meu poente;

Te encontrei assim, tão de repente...

Em minhas pedras o que há de florescer?

Minha vida encerra a tristeza e o segredo

De ver que te encontrei, minha açucena,

Ainda tão cedo pra não te amar, tão cedo,

E tarde, tão tarde pra dizer – que pena!

Chaplin
Enviado por Chaplin em 27/10/2006
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