Tua luz

Meu coração está assim, como numa caverna

Escura, e minh’alma sedenta te procura

Por penedos, furnas, torpes tabernas,

Por entre campas e brumas, fronhas impuras.

Arrancaria do peito míseras vaidades,

Desvelaria meus crepúsculos tristonhos

Só pra descobrir se existes de verdade,

Se lascivos são como os meus, teus sonhos.

Dos desalentos minha cruz cai aos pedaços;

Esbraseado pela sede que me assola,

Pés sangrados, pealados pelo laço

Que me esgana, me esfola, me imola.

Eu seria a mais feliz das criaturas,

mesmo que do amargo fel tenha sorvido,

e do choro seco chorado as amarguras

tresvariado pelo desprazer de ter sofrido

e no suplício, solitário em minha alfama

sentisse, ao menos, tua luz na minha cama.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 27/10/2006
Código do texto: T275038