Tua luz
Meu coração está assim, como numa caverna
Escura, e minh’alma sedenta te procura
Por penedos, furnas, torpes tabernas,
Por entre campas e brumas, fronhas impuras.
Arrancaria do peito míseras vaidades,
Desvelaria meus crepúsculos tristonhos
Só pra descobrir se existes de verdade,
Se lascivos são como os meus, teus sonhos.
Dos desalentos minha cruz cai aos pedaços;
Esbraseado pela sede que me assola,
Pés sangrados, pealados pelo laço
Que me esgana, me esfola, me imola.
Eu seria a mais feliz das criaturas,
mesmo que do amargo fel tenha sorvido,
e do choro seco chorado as amarguras
tresvariado pelo desprazer de ter sofrido
e no suplício, solitário em minha alfama
sentisse, ao menos, tua luz na minha cama.