Monstros Internos
Estou com saudade de andar de mãos dadas,
apresentar para meus amigos:
- Olha esta é fulana, minha namorada.
De sorrir com alguém,
beijar alguém,
de ser desejado por alguém
e sentir que este alguém é fiel a mim.
Saudade de que me olhem nos olhos e não digam nada,
mas que eu sinta que o olhar vem com um
"eu te amo, meu amor".
Saudade de passear no shopping,
comer,
beber,
comprar e sorrir,
ir ao cinema...
Saudade de que o meu amor se interesse pelo meu dom
(e o meu dom é a poesia);
saudade de ver pureza nas palavras,
gestos e olhares alheios;
saudade de que alguém tenha paciência comigo,
seja o meu esteio
em momentos que preciso de um amigo,
mas não sou flor que se cheire.
Contudo ainda tenho lá minhas qualidades:
sou paciente,
gosto de conversar e detesto alterar a voz,
sou sensível,
vejo o invisível
abstratismo dos corações...
Saudade de ser abraçado com ternura;
saudade de ser beijado com sofreguidão;
saudade de ser dileto de alguém;
saudade de saber que por mim chora um coração;
saudade de saber que alguém por mim faz mil e uma coisas
e que me defende entre as pessoas...
E eu fico aqui pensando nos momentos felizes pregressos,
penso nos amigos que estão distantes,
em amores que foram embora,
em nossas noites de baladas,
ébrios em plena à madrugada,
sorrindo sem razão e do nada,
onde todos juntos naquela alegria daquelas horas
fazíamos uma harmonia com alegria...
Hoje não tenho nenhum ombro amigo
para eu me encostar,
derramar
minhas lágrimas pungentes do castigo;
Hoje eu me vejo aqui escondido
do mundo, sentindo-me um inútil:
um inútil sem trabalho;
um inútil sem amor;
um inútil sem amigos...
Em conflito com meus próprios monstros
E as razões mais absurdas
Que minha alma impõe para meu espírito.
A Solidão me amplexa pelas pernas e me diz:
- Tu és meu!
E ninguém vê que o meu defeito é ser intenso.
Viva la tristeza!
Enquanto ela se apodera surge a inspiração;
enquanto ela se apodera
aqui dentro se abre um abismo em escuridão,
uma cratera profunda
que a minha alma se inunda
de pus, onde a ferida aberta tem o nome de mágoa:
silente deusa que mancha,
que se engancha
e deságua
em meu coração.
A vida é muito curta para nós
guardarmos o rancor dentro do peito...
A imensa solidão me causa isto,
na parte insana deste meu defeito.