"Até mais, e obrigado pelos bons momentos..."
Pela janela vi que já era dia, meio sem sal nem açúcar, sem sol pra ser mais exato. A companhia? A mesma de três anos atrás, minha namorada. Era só mais uma manha sem vida, como muitas outras, mas nem sempre foi assim. A vida amorosa tem um ciclo, o namoro começa, prospera e definha, mas como já dizia um sábio cientista, nada some tudo se transforma, ver esse processo de mudança não é nada bom, o sentirele crescendo dia após dia é pior ainda, ver o amor da sua vida se tornar alguém com que você não agüenta passar alguns poucos minutos é pavoroso, os olhares se desencontram, teto e chão fazer parte da paisagem agora, os passeios, quase sem interesse, mas para cumprir uma espécie de ritual, os beijos longos e ardentes deram lugar a toques secos entre lábios unidos e desanimados, caricias, abraços, sexo tudo ocorre como se fosse uma clausula de contrato, não há romance "há algo errado", os dias passam e o sentimento de deslocamento aumenta, mas como falar para a pessoa que você mais amou durante anos que você não tem mais certeza de nada? E os planos de casar e ter filhos, uma casa, uma vida conjugal... Um sonho do qual eu não fazia mais parte. Depois de tudo que vivi ao lado dela a ultima coisa que queria era magoá-la, sem as rédeas da situação o namoro vai em frete, trôpego e desleixado com muito se dando por um e pouco se dando do outro, não se pode dar aquilo que não se sente, o pouco que ofereço não me parece justo, nem espontâneo. A situação piora. As manhas passam os dias se acumulam, as vagas lembranças de momentos felizes me mantém calado, sem coragem, sem animo, neutralizado por algo que nem ao menos entendo (medo? egoísmo? covardia?), não há lógica em prosseguir o correto seria ser sincero. Então por que é tão difícil? é difícil por que não há explicação, não existe um motivo ao certo, não é algo que possa ser revertido agora.
Sempre achei que o que me completaria fosse um amor, alguém especial, uma cara-metade, mas descobri que sinto falta de muitas outras coisas que um amor não pode oferecer. O inevitável aconteceu. A separação, algo tão eminente que nem catástrofe maior impediria. E logo em uma manha, de um dia sem importância, sem sal nem açúcar como muitos outros, um dia fosco, a frase sai, num ensejo “não quero mais" dura, seca. Fim. Incerteza, dor, tristeza.
Um turbilhão de pensamentos, milhares de palavras e nem uma que sirva pra expressar o que aconteceu, nenhuma desculpa, nenhum motivo. O fim de uma historia que teve muitos momentos bons, e posso dizer que foram alguns dos melhores momentos da minha vida, e de tantas coisas que podia ter dito naquela manhã, a ultima coisa que disse foi: “Até mais, e obrigado pelos bons momentos.".