O CANTO DAS CIGARRAS
Depois das chuvas, estio,
cantam "alegres" as cigarras,
olho lá fora um vazio,
a luz do dia sem garras.
Talvez voltem as águas
sem remorso sobre a terra,
como criando as mágoas
que deixou sobejar a guerra.
A natureza chora
do céu desaba em lágrimas
e o poeta sem demora
vai preenchendo páginas.
E tudo parece bem lá fora
com o canto das cigarras
como uma oração sonora,
á capela, sem guitarras.
Os charcos das raizes,
o cheiro da umidade
deixando cicatrizes
e nenhuma saudade.
As cigarras nas copas,
nas árvores, nos cimos;
sentimentos de derrotas
fazem calar os sinos.
E os homens sem vozes,
o nó na garganta,
amados, levados, ferozes,
porque não adianta.
Não adianta as cigarras,
não vão cantar e sim chorar,
tampam os rostos nas barras,
a propósito: As águas vão rolar!
(YEHORAM)