Partidos

Podes pôr sobre mim

a culpa pela morte

da ilusão de outrora

do despertar abrupto

de um 'pra sempre'

hoje, finito

ontem, eterno

amanhã, incerto

Podes pôr sobre mim

teu corpo nu, deixar

sair todo o pesar, cravar

em minha pele teus dedos

dores e dentes, levar

pequenas lascas

espessas tiras

diversos nacos

que preencham o vazio

deixados por nossos

sonhos partidos

Podes pôr sobre mim

os teus desejos

os pregos de teu Cristo

os ecos de teus gritos

lamúrios infinitos

venha logo, e

de um salto

de um soco

Podes pôr sobre mim

teu tudo

a espera

de algo que

encerre o meu nada

O buraco que

o silêncio cava

em nós não tem fim.