a espera

Hoje uma palavra me esperava lá fora

Debaixo da chuva fina entremeada de vapor.

E, a palavra de súbito se tornava pólvora

a explodir significados,

a espalhar signos, cacos e restos.

Daquilo que foi um dia inteiro.

Nada ficou inteiro depois

A hecatombe foi avassaladora

Tudo se moveu, se transformou

Restaram prateleiras repletas de buracos e

ausências.

Fiquei mais pobre,

sem televisão

sem nenhum som

E, no silêncio profundo da solidão

A palavra quieta

permanecia lá fora a esperar

parecia ser paciente e sofrida.

Hoje choveu fino o dia inteiro

E mesmo a tímida borrasca

Era erosiva, úmida e destruidora

E, foi assim, que tudo aconteceu,

foi aos poucos

que tudo ruiu

Foi minando,

em progressão geométrica.

Sumindo,

Escorrendo ralo abaixo

Até enfim sumir completamente...

Sumiram sentimentos,

Pessoas, coisas e lembranças

Nem as fotografias me restaram

Não tenho mais a fotografia

De minha avó com minha filha miúda ainda

Perdi num furto insensato e injusto.

Hoje a palavra molambenta continua lá fora...

A pedir roupa nova,

Vida nova,

Linhas novas

e fotografias novas.

Rimas inovadoras ou requintadas

Requentadas no forno brando

Da tristeza sólida dos dias.

E das chuvas.

Hoje, sem essas lembranças

vivas

Ficaram apenas com meus flashes interiores

a esquadrinhar num rascunho

imagens flagradas em meio do abismo

do tempo.

Você quer saber da palavra lá fora, parada ?

Era apenas espera.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/01/2011
Código do texto: T2709927
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